Irá a bola voltar (Mesmo) a rolar?
Em todo o mundo, tanto os amantes da bola, como os próprios atletas anseiam pelo regresso do Desporto Rei, voltar a festejar um golo da sua equipa, voltar a entoar cânticos de apoio, mas, sobretudo, voltar a ter um “escape” da vida quotidiana, que nos últimos meses, pouco teve de normal.
Porém, nos últimos dias, temos assistido a algumas notícias que poderão deixar os amantes de futebol e principalmente os próprio jogadores de “pé atrás” com o seu regresso.
Emitido pelo Governo a 30 de Abril e que acompanhará a situação de Calamidade, o Plano de Desconfinamento determina que o regresso da Liga NOS e da Taça de Portugal será no último fim de semana do mês de Maio, ou seja, nos dias 30 e 31.
Face a esta decisão, as atenções viraram-se para os próprios Clubes e instituições que regulam o Futebol Nacional, concretamente, Federação Portuguesa de Futebol e Liga Portugal, de como se processaria este regresso à “normalidade”, uma vez que os jogos irão ser realizados à porta fechada, sem a presença de adeptos.
A maioria do Clubes que atuam na Liga NOS já regressaram aos treinos, adotando e adaptando as medidas e recomendações da Direcção Geral da Saúde aos seus universos desportivos como, por exemplo, ter os jogadores a treinar mantendo o distanciamento social de 2 metros entre cada.
Todavia, a realidade que se vive nos centros de treino de cada clube, onde é possível um controlo e uma supervisão mais apertada do cumprimento das recomendações, em nada se compara com a realidade que se vive dentro de campo, onde é praticamente impossível controlar, a título de exemplo, o contacto entre os jogadores.
Mas o que poderá ser feito para proteger os jogadores e as equipas técnicas dos Clubes? “Obrigar” os jogadores a jogar de máscara e de luvas? Tentar evitar o contacto entre os jogadores ao longo da partida?
O nível de preocupação em torno do regresso do campeonato nacional e das medidas a tomar aumentou quando, nos principais campeonatos europeus, tem sido noticiado que jogadores e equipas técnicas de vários Clubes, têm testado positivo à COVID-19.
Face a tal preocupação, a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga Portugal solicitaram, junto da DGS, a emissão de um parecer técnico com as as condições necessárias e exigidas para o regresso da Liga NOS e da Taça de Portugal, parecer esse emitido no passado Domingo, dia 10 de Maio.
Como poderá a bola voltar a rolar?
O Parecer Técnico é constituído por 14 pontos, que apresentam as condições necessárias para o que regresso do futebol nacional de forma segura para todos os seus intervenientes (excluídos estão, como já referido, os adeptos).
Porém, ao realizarmos uma leitura do Parecer da DGS, não podemos deixar de lado a admiração por algumas das medidas/recomendações/condições apresentadas.
Comecemos logo pela primeira condição: “A FPF, a Liga Portugal, os clubes participantes na Liga NOS e os atletas assumem, em todas as fases das competições e treinos, o risco existente de infeção por SARS-CoV-2 e de COVID-19, bem como a responsabilidade de todas as eventuais consequências clínicas da doença e do risco para a Saúde Pública.”
Como é possível que tenham de ser os próprios jogadores a “arcar” com o risco de serem infectados com uma doença, que pode ter repercussões na sua saúde e dos seus familiares, quando muitos deles estão ser “obrigados” a regressar ao trabalho?
Os jogadores são seres humanos e não meramente instrumentos de trabalho dos seus Clubes, não podendo ser pedido aos mesmos que ponderem entre o regresso aos trabalhos e a sua saúde e dos seus entes mais próximos.
De seguida, é ter em conta a segunda condição do Parecer Técnico, que prevê que os jogadores irão assumir o risco de poderem ser infectados pelo Coronavírus, através da assinatura de um “Código de Conduta”, contendo este código ainda “(…) as medidas do dever de recolhimento domiciliário e de Saúde Pública (…).”
Não nos parece plausível que os jogadores e equipas técnicas sejam obrigados a assinar um Código que em nada protege os mesmos e prevendo apenas medidas restritivas dos seus direitos e que em ponto algum prevê uma forma de protecção destes, caso o risco seja assumido e algum elemento da equipa venha verdadeiramente a ser infectado com a infecção COVID-19.
Para abalar ainda mais as medidas que têm sido tomadas em torno do futebol, nos últimos dias vários emblemas da I Liga, como o Sport Lisboa e Benfica ou Vitória de Guimarães, têm anunciado que têm atletas, que após a realização de testes, confirmaram estar infectados com o vírus.
Assim, vários jogadores têm-se insurgido contra a assinatura deste Código de Conduta, mostrado que o mais importante no desporto não é ser campeão ou os milhões que o futebol movimenta, mas sim os seus intervenientes, quer sejam adeptos, jogadores ou equipas técnicas, uma vez que sem estes, o desporto não passa de uma bola e de duas balizas.
Então, porquê continuar com o campeonato?
Ao que parece, o importante para o desporto não é o bem estar dos seus intervenientes, mas sim as questões económicas que estão por trás de tudo isto, senão, que sentido faria terminar com todas as competições, mantendo apenas activa aquela que mais valor monetário move.
Porque não seguir o exemplo de outros campeonatos europeus e dar por terminada a época, salvaguardando a saúde de todos, iniciando-se a preparação, com tempo e calma e sendo possível adoptar medidas (caso a pandemia se mantenha) apropriadas, da próxima época desportiva?
Os interesses são muitos, mas o principal não é claramente a saúde dos intervenientes desportivos!
A bola é um escape aos problemas para muitos sujeitos, não o podemos negar, porém já sobrevivemos alguns meses sem a presença do futebol nas nossas vidas, não será mais algum tempo sem assistir às actuações dos nossos emblemas que prejudicará a nossa saúde, mostrando que o mesmo não é um bem essencial para os cidadãos.